sexta-feira, 27 de novembro de 2009

RESENHA A CORROSÃO DO CARÁTER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Psicologia
Curso de especialização em Psicologia do Trabalho



Aluna : Carolina Luciana da Cunha


RESENHA

Richard Sennett. – A Corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo/ Richard Sennett; Tradução Marcos Santarrita. - 7ª Ed. - Rio de Janeiro: Record, 2003

O livro A CORROSÃO DO CARÁTER – conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo escrito pelo autor Richard Sennett. Sennett é professor de sociologia, organizou este livro em 8 capítulos discorrendo sobre uma analise sociológica das diversas transformações ocorridas no campo do trabalho.
Em sua primeira etapa Sennett argumenta nos dizendo deste sobre o novo momento que se caracteriza por um novo modelo “capitalismo flexível”, que vem a confrontar as formas rigidas da burocracia, as conseqüências da rotina exacerbada exigindo dos trabalhadores que sejam ágeis, aberto a mudanças e tudo isso a curto prazo, se extreindo de leis e formalidades. Isto pode-se criar situações de ansiedade nas pessoas, que são sabem os riscos que estão correndo e a que lugar irão chegar com esta nova forma de ver o trabalho, ficando assim em teste o próprio senso de caráter pessoal. O autor, cita que o caráter é (...) o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e ás nossas relações com os outros... são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem (p.10).
Sennett coloca que o novo capitalismo pode afetar o caráter pessoal dos indivíduos, principalmente por não oferecer condições para a construção de vida, baseada na experiência, hoje nesta sociedade onde se concentra tudo no imediato, sendo que as relações se constroem em longo prazo. Ao utilizar o recurso metodológico de história de vidas busca demonstrar como o trabalhador fordista (no exemplo da história de vida de Enrico), apesar de ter o seu trabalho burocratizado e dentro de uma rotina, ainda constrói uma história com repetições baseada no uso disciplinado do tempo com expectativas a longo prazo. Já para o trabalhador flexibilizado (como no caso de Rico – filho de Enrico), as relações de trabalho, os laços de afinidade com os outros não se processam ao longo prazo, conseqüentemente mediante grandes mudanças constantes de emprego e de moradia que impossibilitam o indivíduo de conhecer os visinhos, ter amigos, manter laços até com a própria família. Perante as mudanças no mundo do trabalho, ... como se podme buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações duráveis? (p.27). È um desafio segundo o autor buscar laços em um cotidiano sem tempo, sem laços, totalmente desfragmentado, que as pessoas no contexto atual têm que enfrentar, e assim coloca que com toda essa problemática vem a ocasionar de corroer o caráter, pois não existe mais uma ligação entre os seres humanos.
Podemos dizer que atualmente, a sociedade está em luta contra o tempo rotineiro, com a forma de trabalho taylorista/fordista, e assim parece apoiar as palavras de Adam Smith: a rotina torna-se auto destrutiva, por que os seres humanos perdem o controle sobre seus próprios esforços (p.41). Neste significado Sennett vem a considerar que a forma taylorista/fordista desconstrói a noção básica do trabalho, desestruturando o significado de quem o produz. A sociedade procura resolver o problema da rotina na tentativa de reestruturar o tempo, com instituições mais flexíveis, cria-se formas diferentes de poder e controle. As novas formas de poder da flexibilização apresentam-se num movimento estrutural que reúne: a reinvenção descontínua de instituição, assim uma total ruptura do atual como passado como forma de atacar a burocracia; a especialização flexível, isto é, ... Em termos simples, a especialização flexível tenta pôr, cada vez mais rápido, produtos mais variados no mercado... Essas empresas cooperam e competem ao mesmo tempo, buscando nichos no mercado que cada uma ocupa temporariamente, e não permanentemente, adaptando a curta vida de produto de roupas, têxteis ou peças de máquinas (p.59); a concentração de poder sem centralização, que aparentemente parece dar ao trabalho em equipe maior controle sob o trabalho que desenvolve, mas na verdade quem decide o que fazer e quando, ainda é o capitalista, restando aos trabalhadores apenas como fazer suas atividades.
Flexibilizando o tempo do caráter, caracterizada pela ausência do apego, perda da referência temporal a longo prazo e pela tolerância com a fragmentação. Diante desta situação Sennett argumenta que o trabalho flexível leva a um processo de degradação dos trabalhadores de ofício e até onde os trabalhadores serão obrigados a dobrar-se, pois com a introdução de novas tecnologias organizacionais, o trabalho tornou-se relativamente fácil mas altamente superficial. Cita assim afim de exemplificar o caso dos padeiros Gregos na Padaria Italiana que há vinte e cinco anos, na sua maioria, era passada de pai para filhos, gregos e filhos de padeiros, sendo o seu trabalho caracterizado pelo contato com a massa do pão, o calor dos fornos e o desgaste físico que a atividade exigia. Atualmente a padaria transformou-se numa delicatessem, fundamentando - se nos princípios da organização flexível, e socialmente não é mais um “estabelecimento grego”. Desgastam causando a ilegitimidade da sua própria atividade realizada, podendo a acontecer que o trabalho tornara-se mortificador porque não era mais necessário fazer pão ou ser padeiro; os laços sociais com o trabalho se tornam rompidos, causando uma perda de identidade social que o “ser padeiro” lhes conferia, como cita no livro o pão tornou-se uma representação numa tela.
Utilizando do regime flexível as dificuldades vêm a se consolidar no ato de correr riscos, as próprias dúvidas das organizações flexíveis conferem aos trabalhadores correrem riscos com seus trabalhos, colocando em prova o caráter pessoal. Assim esta nova ordem concentra-se na capacidade imediata, não leva em conta que acumulação dá sentido e direito às pessoas; e daí a preferência do capitalismo pelos mais jovens, por serem mais adaptáveis às formas flexíveis de trabalho. Os riscos colocam o senso de caráter em questão, propiciam aos indivíduos um sentimento de esvaziamento nos sentidos da moral, social e cultural. Podemos citar também o exemplo da história de Rose, apresentada pelo livro onde demonstra como o risco se tornou tão desnorteante e deprimente no capitalismo flexível.
Pensando assim essa nova ética do trabalho pode vir a contribuir para o desgaste da vida humana a perda total da referência ao autro. O Campo da ética do trabalho nos dias de hoje é contestada a todo o momento a profundidade das experiências, fundamenta-se no trabalho em equipe, a busca de trabalhadores precisam ser polivalentes e que se adéqüem às circunstâncias. As relações humanas se tornam apenas representações do resultado do trabalho flexível e ilegível.
Sennett discute que embora o trabalho seja flexível e tente romper com a rotina e a burocracia, ele não alcançou ainda o trabalho fordista, e sim deixou se tornar precário as relações de trabalho e os homens, e a ética. O trabalho em equipe não ultrapassou a ética do trabalho rotineiro; sendo que esses dois pensamentos coexistam em uma relação dialética. O trabalho em equipe gera um novo tipo de caráter, o homem que por vir seria motivado dá-se lugar a um homem frustrado pela competitividade, a não conformidade com o fracasso.
Hoje podemos dizer que o fracasso é uma causa social que vem a atingir todas as pessoas, uma grande questão da atualidade, dando significados diversos como o fracasso significar que ser uma experiência de perda, do não alcance de suas metas internas, as vezes confusa, e, por tanto, busca-se uma alternativa para enfrentar tal questão onde podemos dizer que se precisa é de buscar novas experiências. Tem um exemplo bem claro no livro sobre a história dos programadores demitidos da IBM, onde citou que para se enfrentar o fracasso é necessário recuperar o senso coerente entre o eu e o tempo, pelo meio da interlocução ou mesmo troca dos problemas com os outros. Assim dizendo um senso de comunidade e de caráter mais amplos se fazem necessários para combater o novo capitalismo, numa sociedade em que as pessoas estão cada vez mais condenadas a fracassar.
Um grande confronto desafia o caráter neste novo capitalismo é quem estaria disposto a enfrentar o novo capitalismo? Se pergunta diante das circunstância onde o caráter se corrói; “ Quem precisa de mim? Nesta posição onde as relações entre as pessoas no trabalho se tornam superficiais, descartáveis e os laços de lealdade, confiança, compromisso se afrouxam em decorrência das experiências que se tornam de curto prazo? O problema do caráter nesse tipo de capitalismo é que há história é curta, frouxa e sem laços vindouros, não se partilham todas as histórias com os outros e, assim, o caráter se corrói...corrói. Hoje já podemos mais pensar diante desta discussão, se pensar num coletivo, (...) um regime que não oferece seres humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo(p.176)
As questões sobre o caráter corrompido numa nova sociedade, a abordagem da flexibilização evidencia os momentos sociais que este novo pensar traz de impactante para o mundo do trabalho dentre suas implicações na vida pessoal, até corrosão do caráter.
Elemento importante do livro é destacado como o trabalho assume uma centralidade indispensável nas narrativas dos personagens Enrico, Rico, Rose e dos programadores da IBM, focando as relações de trabalho onde as pessoas se afirmam e se negam a todo tempo, tentando dotar suas vidas de sentido, buscando se identificar se reconhecer ou não nos outros. O trabalho tem um valor ético importante na construção de uma identidade com laços posteriores.
Sennett nos faz pensar diante dos seus próprios questionamentos, pensar sobre as nossas histórias de vida, como enfrentamos os percalços os fracassos essa rotina atordoante de produzir, e assim buscar construir um caráter visando adequar-se a esta nova realidade. Assim podemos pensar que o sistema capitalista aquele que somente valoriza o descartável, o inconstante, o expresso, e o individual. Podemos pensar para propor a respeito das discussões do livro como manter e reconstruir novos laços sociais, na medida da formatação deste cotidiano de curto – prazo, e reformular nossa concepção de caráter.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Pois estou aqui... perto de você e distante...
Não consigo estar perto e não te tocar...
Meu corpo reconhece seu cheiro ...
Fecho os olhos a pensar e te vejo por inteiro...
do dedão do pé ao último fio do seu cabelo...
sabe aquele frio na barriga, aquela sensação de calafrio...
senti mais uma vez, ao lembrar da sua voz a me dizer carinhos
ao pé do ouvido, quase que indecentes.
Pois estou aqui...